quarta-feira, 24 de novembro de 2010

24 de Novembro de 1652

Estou quase uma semana sem escrever aqui, foram bons dias.
Nos dois primeiros dias , admito, eu estava bêbado demais para encontrar o diário. Acordei cedo nestes dias, resolvi o que tinha de resolver rápido e fomos beber, o entusiasmo era tanto, que era um copo atrás do outro, parando apenas o tempo necessário para puxar o fôlego para o próximo gole. Bebíamos e riamos alto, como bons piratas. Demos as mulheres o que nós queríamos, já sinto saudade de tudo aquilo. Depois disso o Caliba voltou ao mar, isso fez eu me sentir novo. O vento que o oceano traz, eu havia sentido muita falta daquilo, voltava a bater em meu rosto, e o som da água, que acerta com força o casco do navio, que agora estava novo, impecável, como em seus dias de glória, tomava conta de mim novamente e quando eu fechava meus olhos eu via que voltara tudo a ser perfeito.
Neste tempo eu devolvi a mim mesmo a felicidade e a vontade de um pirata, a terra não é o meu lugar, eu deveria ter nascido peixe, pois é aqui, no mar, com esse balançar do navio, que faz as lamparinas formarem diferentes formas nas paredes, que eu me sinto em casa.
Farei jus ao fato deste caderno ser chamado "diário". Hoje acordamos cedo, como comum aqui, todos temos nossas tarefas, como sou mais velho aqui no navio, meu trabalho é basicamente vigiar que os outros façam o seu bem feito, é claro que muitas vezes me coloco a suar, não faz muito sentido apenas olhar, sem contar que sou um dos melhores guerreiros do navio, minha habilidade com o sabre é realmente muito boa, não deixo a desejar, então durante os saques, sou um dos que mais trabalha.
O capitão não se sentiu muito bem hoje, reclamou um pouco de dores, algo que nunca tinha ouvido dele, deve estar bem mal mesmo. Ele ficou o dia todo em seu aposento, eu não quis ir perturbá-lo, tem horas que a solidão é a unica que pode resolver nossos problemas.
Depois de um dia árduo de trabalho, nos reunimos na cozinha do navio. Bebíamos e falávamos alto, uma das coisas boas de se morar em um navio pirata é isso, você não tem hora pra dormir, ninguém manda você ficar quieto, você é o dono de sua barba, com ou sem pedaços de carne.
Decidi me manter um pouco sóbrio hoje, o suficiente para escrever, isso aqui me faz bem, me tira o peso do dia, os problemas da cabeça.

B.B.

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

18 de Novembro de 1652

Ao abrir os olhos hoje pela manhã, eu desejei tanto que o Caliba já estivesse ao mar, que a chuva não tivesse feito nada a ele, apenas esperando por mim, ficou apenas no desejo, a chuva realmente não tinha feito nada mais, mas ele estava parado no mesmo lugar, com uns piratas e outros homens trabalhando no rombo que ainda estava lá. Um dos homens que está ajudando no Caliba disse que deve ficar pronto em uns três dias. Que passem logo esses dias, estou com saudade do balanço suave do mar, de sentir o vento que apenas o oceano trás, de ser pirata.
A bela moça, tal qual, perdeu sua beleza aos meus olhos, dominou meus pensamentos durante o dia. Meus desejos de homem foram se aflorando mais, faziam tempos que eu não tinha uma mulher em meus braços, então procurei saber sobre a "casa das donzelas" da cidade, era assim que o capitão chamava os bordéis. Me indicaram uma casa, fui até lá e o resto não preciso contar.
Ao voltar bebi um pouco, falei alto com os bêbados e agora aqui estou, cansado, as mulheres me deram trabalho.

B.B.

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

17 de Novembro de 1652

Acordei com gritos hoje, um dos piratas do Caliba, Fellipo, me chamou avisando que tinham saqueado o nosso navio. Levantei pulando da cama, chegando ao porto estavam todos reunidos em volta do navio, perguntei ao capitão o que havia acontecido e ele com os olhos vazios e olhando para o nada, me explicou tudo. Alguns garotos haviam entrado pelo buraco no casco e pegado alguns pertences, principalmente partes grandes do tesouro do capitão. Eu juntei alguns homens e começamos a revirar a cidade atrás desses malditos. Depois de muito procurar e perguntar, encontramos um homem com algumas jóias do tesouro do capitão, levamos ele para longe dos olhos das pessoas da cidade. Ele admitiu que pagou para que os garotos pegassem o tesouro para ele, mas isso só depois de já ter sangrado muito, principalmente em minhas mãos. Levamos o homem ao capitão, que teve uma "conversinha" com ele, o tal saiu daquele quarto olhando para o chão e tomando susto com a própria sombra. Queria saber o que o capitão conversa com esses sujeitos.
Essa brincadeira de "Pega o ladrão" rendeu metade do meu dia, na outra metade, decidi procurar a bela moça outra vez. Após uma busca frustrada decidi tomar meus medicamentos, copos e copos de rum. Até que a sorte veio me procurar, a bela moça de seios fartos, por quem tanto procurei, entrou na taberna. Ela sentou-se em uma mesa no canto, perto da janela. Não haviam muitas mesas no lugar, nem ao menos muitas pessoas, apenas alguns bêbados que restavam no chão. Me levantei e fui até ela, disse "olá" esperando que ela me respondesse no mesmo ânimo, ela apenas olhou para mim e acenou com a cabeça, como se nem ao menos me conhecesse. Aquilo fez com que um nó surgisse em minha garganta, mas eu sou forte com isso. Virei a cadeira e sentei-me com os braços sobre seu apoio. Fiquei encarando-a, os olhos dela, que não pareciam mas os mesmos pelos quais eu havia me apaixonado, me mostravam um certo julgamento da parte dela. Aquele silêncio começou a me enjoar e perguntei porque ela havia ido cuidar de mim, ela ignorou minha pergunta e continuou se distraindo fazendo tranças em seu cabelo. Até que ela sorriu e acenou, mas eu estava muito perto para que aquilo fosse para mim, ao olhar para trás, vejo o homem que tinha roubado o tesouro do capitão, eu já estava exausto de bater nele. Olhei outra vez para ela e me retirei da cadeira, o homem, ainda com um dos olhos roxo, sentou-se tentando passar o mais longe possível de mim, e pra ser sincero, ele fez bem.
Pedi mais um copo de rum, voltei para meu quarto e agora irei dormir, parece que vai chover outra vez, espero que não traga mais danos ao Caliba, quero logo ir embora desde lugar.

B.B.

terça-feira, 16 de novembro de 2010

16 de Novembro de 1652

Acordei com uma dor de cabeça de dar em cavalos, o sol que entrava pela janela vinha como faca em meus olhos, nada que uma tarde na taberna não tenha resolvido.
Estou vendo que o Caliba vai demorar voltar ao mar, onde ele é belo, poderoso e acima de tudo, respeitado. Sabendo então que terei que ficar mais tempo aqui, decidi procurar pela moça do olhar envolvente e do belo e... volumoso decote.
Enquanto estava bebendo perguntei a muitos se a conheciam, mas ninguém sabia pela descrição que eu dava, qual o problema em: "Aquela bela moça de seios fartos"? Eu realmente não sei. Eu tentei encontrá-la, passeando um pouco pela cidade, mas não obtive exito. Agora que eu havia decido descobrir o nome da dama que me encanta com os olhos, não a vejo mais.
Agora a noite, voltando para meu quarto, um garoto de rua, como eu era, tacou uma pedrinha em um velho que dormia atrás de uns barris na rua, o velho desesperado acordou gritando: "A guerra começou! Devolvam minha espada! Devolvam ela!". Ver o velho começar a correr em direção ao mar, com as mãos erguidas e sem nenhuma lucidez me fez rir, mas me foquei no garoto, vi que eu era exatamente igual a ele, quando jovem, assim respondi a uma pergunta que eu havia feito a mim mesmo, eu até poderia ter sido mais feliz, mas eu sei que fui e sou, feliz o bastante.

B.B.

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

15 de Novembro de 1652

Eu ainda não consigo acreditar, a chuva desta noite agitou o mar e jogou o Caliba sobre o porto, agora nosso navio tem um grande buraco em seu casco, teremos que ficar mais nessa cidade. O meu lado peixe, pede de volta o mar.
Hoje foi um dia no qual tive vontade de arrancar a barba de raiva. Logo ao nascer do sol, assim que eu e os outros piratas levantamos, vimos o Caliba e seu estado lamentável. O capitão parecia ao mesmo tempo abalado e ainda assim furioso, optei por não falar com ele hoje. Logo depois, dois de nossos piratas, já bêbados, começaram a se esmurrar, socos, chutes, puxão de barba, enfim, um grande teatro, ao tentar separar, levei um soco de um deles, foi instantâneo, entrei na briga também. Não tenho certeza, mas acho que a briga terminou quando me acertaram uma garrafa na cabeça.
Após toda a confusão do dia, acordei em meu quarto, e que surpresa, a bela moça de ontem, a que me encantou com seu olhar, cuidava de mim. Passava um pano em minha testa, enquanto o fez, pude observar seu belo decote, mas parece que ela percebeu, se ergueu e saiu do quarto. Não satisfeito me levantei para ir atrás dela, mas havia uma bacia no chão, enfiei meu pé nela, escorreguei e levei um belo de um tombo, tudo escureceu outra vez. Não sei se sonhei, mas durante esse tempo em que minha mente não estava nesse mundo, eu tenho quase certeza de que a bela moça veio cuidar novamente de mim. Acordei a pouco, estou com uma bola na cabeça, poderiam me usar em um dos canhões do navio, se ele estivesse navegável, mas vejo que a lua já ilumina o céu, e vou dormir outra vez, mas não por quedas e sim por vontade dessa vez, me sinto um velho após uma batalha.

B.B.

domingo, 14 de novembro de 2010

14 de Novembro 1652

Consegui ter uma boa noite de sono, revirei um pouco ao deitar, mas o sono veio logo.
Hoje nosso navio, o qual esqueci de apresentar, o Caliba, parou em um porto aqui na frança, fomos direto beber bons e grandes copos de rum e ver belas moças, a saudade disso era grande. Bebemos e curtimos durante toda a tarde, até o início do anoitecer. Não tenho muita certeza do que escrevo, esse caderno parece sair do lugar algumas vezes, talvez seja culpa de minha falta de sobriedade.
Hoje não direi muito, já que estamos desde o nascer do sol aqui e não fizemos muitas coisas. Essa cidade é bem agradável, faz um pouco de frio agora, e creio que irá chover durante essa noite. As pessoas daqui são muito quietas até beberem uns dois, três copos cerveja ou qualquer outra dessas coisas que são servidas nas tabernas. Sim, eu reparo muito nas pessoas. Tentem me entender, passar tanto tempo no mar, me torna quase um selvagem, ver gente é muito raro.
Uma coisa que achei bem interessante foi uma das belas moças que estavam na taberna, não sei como se chama, nem de onde veio, mas ela, exatamente ela, me chamou a atenção por algo que a diferenciava das demais, o olhar. No corpo, não vi diferença, com certeza eu daria um dedo por uma noite com qualquer uma delas, mas aquele olhar, me prendeu. Ela olhava para mim e parecia ver minha alma, e mesmo sabendo a nossa fama, os piratas, ela não parecia ter medo, e isso me assusta e ao mesmo tempo me atrai. Ser grande, bruto, colocar medo e impôr respeito, facilitou muitas coisas para mim na vida, afinal, sou um pirata, mas também sou humano, também sou homem. Porém, pouco importa isso, amanhã nosso navio esta de volta ao mar e essa bela moça, ficará apenas em meus sonhos, que são poucos.
Irei fechar essa janela, pela qual entra esse vento frio, e deitar-me, espero que durma novamente bem.

B.B.

sábado, 13 de novembro de 2010

13 de Novembro de 1652

Essa noite não consegui dormir, o som das ondas batendo no casco do navio e a mente cheia, escrever me trouxe lembranças.
Lembrei do dia em que discuti com um cachorro que me seguia pelas ruas da cidade. Eu tinha conseguido um belo e grande pedaço de pão, mas em um momento de distração o cão arrancou o pão de minha mão e o devorou com uma só bocada, coloquei minha mão na cintura, apontei para ele e falei muitas coisas: "Cachorro idiota! Sabe como é difícil conseguir comida aqui? Não, não sabe né?". Será que eu pensava mesmo que ele iria me entender, eu me entendia, sentia muita fome. Mesmo assim, essa lembrança me fez rir, mas questionar a respeito de que as coisas poderiam ter sido diferentes em minha vida, fez com que meu estômago desse um nó. Eu poderia ter sido mais feliz?
Pensamentos e mais pensamentos, ganharam toda minha noite. Durante o dia fazendo meu trabalho, vendo os homens nos quais me inspirei, e com os quais aprendi, eu percebi uma coisa, na vida não adianta pensarmos se seria diferente, pois se voltassemos no tempo, fariamos a mesma coisa, pois não teriamos a consciência de como tudo seria depois. Complicado escrever isso, mas eu entendo.
Cantamos hoje uma música que dizia assim: "O quão grande é o mar, tão longe o infinito pode chegar", como somos pequenos no meio de todo esse mundo, somos uma parte de um quebra cabeças que não fará falta a um observador desatento.
Tenho que me recuperar dessa ressaca de lembranças urgente.



B.B.

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

12 de Novembro de 1652

Meu nome é Benjamin Boller, sou um pirata, viajo há anos neste navio, vou contar minha história.
Eu era uma criança jogada a rua, meus pais haviam me deixado em uma casa com uma mulher gorda e feia, da qual eu não recordo o nome. Ela me obrigava a fazer tudo enquanto ela repousava suas mais de trinta camadas de barriga sobre o sofá velho da casa. Eu fugi de la, me lembro que ao sair fechei meus olhos e comecei a correr, tentando esquecer tudo e talvez alcançar o céu, que estúpido fui, uns cinco metros depois, tropecei em uma maldita pedra e cai, aquilo me fez ver que eu não conhecia nada do que era o mundo.
Eu fazia pequenos furtos e apanhava dos comerciantes todos os dias na cidade, mas era bom, de tanta pancada que eu levava, fui aprendendo a lutar, e os jovens da nobreza sofriam em minha mão, assim eu conseguia roupas e coisas legais.
Não tinha nenhuma esperança futura, até que conheci o capitão Lucio. Ele estava de passagem na cidade, e ao parar para comprar alguns barris de rum tentei rouba-lo, só eu sei como aquele soco doeu. Ele me arrastou pela orelha até o navio e me jogou no meio de todos, eu ali, levantei olhei para todos aqueles homens com barbas longas, me encarando como se quisessem ver minha alma e esmaga-la, homens grandes e sujos, que hoje chamo de professores. Tive que pedir perdão e o capitão disse que eu seria perdoado pois iria trabalhar para ele o resto da minha vida, mas o que eu tinha a perder? Pode parecer estranho, mas foi o melhor dia da minha vida.
Hoje o capitão não me manda nem mais limpar o meu próprio sapato, ele já esta velho, mas é o homem que mais admiro, é engraçado o modo como ele me pede conselhos, "Pegar aquele tesouro vai ser bom, você concorda não é?", quem sou eu pra contradize-lo? E os professores, é incrível como depois de anos, ainda aprendo tanto com eles a cada dia e vale lembrar, foram eles, piratas sujos e banidos, que me ensinaram a escrever, se eu depende-se daquela velha gorda, que hoje em dia já deve ter sido levada pelos mares, eu não saberia nada.
Durante um saque hoje, achei esse caderno velho, nas primeiras páginas haviam alguns mapas, arranquei eles, não me importam. Decidi contar aqui a minha história, não só os grandes piratas merecem seu lugar, espero que quem ler isso, entenda tudo que se passa em minha velha alma.



B.B.